Cruzeiro das Almas completa 229 anos de fundação

Nesta terça-feira, dia 13 de dezembro, o Cruzeiro das Almas, localizado no bairro da Lagoa, próximo ao Alto da Pedra, está completando 229 anos de fundação. Há um mês, uma construtora invadiu a área do Cruzeiro das Almas para construção de um prédio, mas foi embargado pela Prefeitura de Barão de Cocais, por ser área tombada pelo patrimônio histórico municipal.

O Cruzeiro das Almas foi erigido em 1788, por intenção das almas daqueles que lutaram em batalha fratricida entre os índios caetés e bandeirantes. O monumento histórico está voltado para a trilha dos Caetés, cujo pedestal de granito octogonal (oito lados), possui inscrições setecentistas com narrativas do fato ocorrido citado acima, ocorrido no século XVIII. Tombado pelo patrimônio histórico municipal, no centro da cidade, próximo da Matriz Santuário São João Batista do Morro grande (1764-1785) está a poucos metros da praça Alencar Peixoto (praça da Matriz).

Existe apenas três tipos de cruzeiro no Brasil, em formato octogonal: um em Olinda (PE), outro em Salvador (BA) e o de Barão de Cocais (MG), antigo arraial de São João Batista do Presídio do Morro Grande, fundado no dia 29 de agosto de 1704, pelo bandeirante português Manoel da Camata Bittencourt. A lenda sobre a fundação do cruzeiro está narrada na obra intitulada “Cascavanca”, escrita pelo historiador mineiro e cronista, José Belarmino da Silva, que publicou-a em forma de folhetim no jornal de Juiz de Fora (MG), no início do século XIX.

Ele conta que um cavaleiro com as iniciais J.T.S. (conhecido como José Português), inscrito no pedestal octogonal, cavalgava na trilha dos Caetés, proveniente da serra da Cambota, para se encontrar com uma taverneira discreta, moradora na região da Lagoa. De repente, um esvoaçar as pombas brancas, impediram-no de seguir caminho. As pombas brancas, agressivas, representavam as almas dos mortos insepultos na batalha fratricida ocorrida no lugar. O cavaleiro (José Português), recuou até a serra da Cambota, onde, cansado, descansou, dormiu e sonhou. No sonho, recebeu uma mensagem dos mortos, que ele teria de construir um cruzeiro de pedra, circundado por quatorze cruzes de madeira, referente aos números de mortos ali insepultos, a fim de acalmar as pombas brancas (almas revoltas).

Então foi erigido o cruzeiro de pedra e pedestal octogonal de granito (a cruz de pedra foi destruída por um raio que caiu na região em 1939, e foi substituída por uma de madeira de lei (braúna). No pedestal estão as seguintes inscrições setecentistas: de um lado da trilha dos Caetés, está lavrado na pedra P.N.A.M. (iniciais das orações Pai Nosso e Ave Maria, para serem rezadas por intenção das almas dos mortos ali insepultos; abaixo das iniciais P.N.A.M., está inscrito “Pelas Almas” e a data “13 de dezembro de 1788”. Do outro lado do pedestal, está J.T.S. (iniciais do nome de José Português) e mais adiante, no outro lado, está a narrativa da história (lenda) em português setecentista: “Sabbado, dia de Santa Luzia, pelas dez hoyas da noute, sahiram as almas uoando” (Sábado, dia de Santa Luzia, pelas dez horas da noite, saíram as almas voando).
*Do jornalista e historiador Leonel Marques, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, sediado em Belo Horizonte

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