Autoridades, ambientalistas e militantes do movimento contrário à mineração na Serra da Piedade, em Caeté (MG), se uniram em uma missa no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, ontem, terça-feira, em defesa do patrimônio ambiental, religioso e histórico da região.
O evento fez parte de uma visita de parlamentares que integram as Comissões de Cultura e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade, com o objetivo de averiguar o impacto das atividades de mineração em área vizinha ao patrimônio religioso.
As queixas apresentadas pelas autoridades religiosas e por ambientalistas envolvem, por um lado, o perigo e o transtorno que representam os caminhões de minério para os frequentadores do Santuário. Tanto o número de caminhões quanto de visitantes aumentou muito nos últimos anos, pois a retomada das atividades mineradoras coincidiu com reformas das instalações religiosas que ampliaram muito o turismo no local.
Por outro lado, sacerdotes e ambientalistas também criticam o acordo judicial firmado entre o poder público e a mineradora AVG Empreendimentos Minerários, em 2012, que permitirá à empresa ampliar a área de exploração antes de recuperar uma área degradada da serra.
Essa área degradada inclui duas cavas minerárias abandonadas pela empresa Brumafer, que cessou suas atividades em 2005. Dois anos mais tarde, ela foi adquirida pela AVG, que assumiu a obrigação de recuperar essas áreas. Para cumprir essa tarefa, foi fechado o acordo com diversos órgãos estaduais, homologado pela Justiça, que prevê a exploração do minério disponível em função do trabalho de descomissionamento (desativação) da estrutura existente, mas também ampliando a atividade minerária para áreas adjacentes.
Durante a visita realizada ao Santuário, os argumentos contrários à mineração foram apresentados pelo coordenador da Agência de Desenvolvimento Regional Integrado da Arquidiocese de Belo Horizonte, professor Miguel Ângelo Andrade, especialista em gestão de áreas protegidas.
De acordo com Andrade, para recuperar a área destruída, a empresa está sendo autorizada a destruir mais 30 hectares de mata atlântica. “Você gera mais danos para recuperar uma área. É um contrassenso”, criticou. Segundo o professor, já circulam na serra hoje 400 caminhões, diariamente. “Não há qualquer controle. E o Santuário está recebendo 500 mil pessoas por ano. A pergunta é: isso é compatível? Achamos que não”, argumento Andrade.
Autor do requerimento para realização da visita, o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), salientou a importância de se proteger um patrimônio que já foi reconhecido pelo Papa João XXIII. “Essa riqueza não é de Minas, é do mundo”, afirmou.
Presidente da Comissão de Cultura, o deputado Bosco (Avante) afirmou que a Assembleia não se omitirá, mas ressalvou que é necessário “calçar as sandálias da humildade”, tendo em vista que há um acordo homologado pela Justiça e que os poderes da Assembleia tem seus limites. O deputado Ulysses Gomes (PT), também autor do requerimento de visita, afirmou que os parlamentares visitarão a empresa mineradora, a fim de buscar oportunidades de diálogo.
O deputado Professor Wendel Mesquita (Solidariedade) defendeu um “abraço” ao Santuário e rejeitou a ideia de ampliar a exploração mineral na Serra da Piedade: “Não podemos degradar ainda mais esse ambiente que já foi tão prejudicado por tantos anos”, afirmou.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede) lembrou que a Serra não possui apenas um patrimônio religioso e histórico incomparável, mas também abriga espécies únicas de fauna e flora. “Há orquídeas que só florescem aqui”, salientou. Também participaram da visita os deputados João Vítor Xavier (PSDB) e Gustavo Santana (PR).
Missa
As autoridades participaram da Santa Missa presidida por dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH. Durante a sua homilia, o Bispo lembrou sobre a tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho e como a comissão formada em defesa do Santuário da Padroeira de Minas é importante. Dom Vicente ressaltou que “precisamos ser a voz de Jesus na sociedade, que defende os direitos sociais. Cabe a cada um refletir o que pode fazer para melhorar o local que vive”.
O Bispo destacou que o Santuário Basílica “tem riquezas muito maiores do que o minério, como a água e os biomas naturais, bens que precisam ser preservados imediatamente”.
O reitor do Santuário, padre Fernando César do Nascimento, agradeceu dom Vicente pela dedicação ao povo de Brumadinho e por contribuir para o desenvolvimento sustentável de Minas Gerais. O Padre também agradeceu aos parlamentares que têm defendido o Santuário e procurado reforçar as leis de proteção à Casa da Padroeira de Minas Gerais.