O queijo Pingo de Amor foi premiado em um dos principais concursos de queijo do mundo
Desde que se entende por gente, a mineira Lucilha de Faria adora fazer queijos. Depois de superar muitas dificuldades – o que inclui uma depressão severa na infância, transformou a paixão em profissão e a profissão em um negócio de sucesso. Hoje, aos 34 anos, ela comanda a Queijaria Pingo de Amor, em São Roque de Minas/MG, na região da Serra da Canastra.
Lucilha sempre gostou das coisas da roça e aprendeu a fazer queijo ainda criança, com seus pais e avós. Gosta tanto da fazenda que teve depressão quando precisou morar na cidade pra estudar. “Foi um período muito turbulento. Depois de ter nascido e crescido livre na fazenda, foi um baque ter de ir pra cidade. Eu morava com minha avó. Ver meus pais vindo pra roça e eu ter de ficar lá, na escola, acabava comigo. Eu me sentia em uma prisão”, lembra. Depois de um longo tratamento e de passar por esta fase difícil, ela decidiu que queria criar sua família na roça e viver do queijo.
Quando voltou pra fazenda, depois de terminar os estudos, percebeu a situação financeira de seus pais, com poucos recursos e sem muitas perspectivas. “Eu queria viver da roça, do queijo, mas não sabia como, por onde começar. Foi quando um vizinho, que estava enfrentando dificuldades por causa da seca, pediu pra gente cuidar das vacas dele. Aí, começamos a tirar leite e fazer queijo”, conta ela.
No começo do negócio, por volta de 2012, a produção diária de oito peças de queijo era vendida fresca, ao atravessador, sem muito valor agregado, por menos de R$ 5,00 o quilo. O que não era suficiente pra sustentar a família e levou Lucilha e o marido, André, a quase perder tudo. Foi quando eles decidiram se juntar à Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan), profissionalizar a produção e agregar valor ao queijo que vendiam.
Inovação e qualidade
Na retomada da produção, o casal decidiu investir mais na qualidade do que na quantidade. “Passamos a gastar mais leite para fazer o queijo e ter um produto melhor. Por meio do projeto com a Aprocan e o Sebrae, levamos o queijo para a Feira Aproxima, em Belo Horizonte. E depois para o Prêmio Brasil, em São Paulo, onde nosso produto foi premiado. De lá pra cá, a gente vem crescendo muito”, relembra Lucilha.
No começo da história da empresa, eram produzidos diariamente 100 litros de leite e oito queijos, que eram vendidos por R$ 4,50 cada um. Hoje, com um rebanho de 80 cabeças de gado, a fazenda produz 250 litros de leite por dia e 22 peças grandes de queijo canastra. Cada peça é comercializada, em média, por R$ 45. Com o apoio e orientação do Sebrae, Lucilha aperfeiçoou a produção, investiu no desenvolvimento da marca e participou de diversos eventos. Todo o trabalho de identidade visual da marca Pingo de Amor, por exemplo, foi desenvolvido a partir do programa Sebraetec, que subsidia o acesso dos pequenos negócios a serviços tecnológicos.
Na Páscoa de 2019, quando estava construindo a estrutura para abrigar a quarta versão de sua queijaria, Lucilha teve uma ideia para conseguir um faturamento extra. “A criatividade, neste caso, foi motivada por uma necessidade. Resolvi fazer um ovo de Páscoa todo de queijo. Quando fiz um protótipo e postei nas redes sociais, os pedidos não pararam de chegar. No total, vendemos 300 ovos”, lembra.
Logo depois, em junho, o queijo Pingo de Amor foi premiado em um dos principais concursos de queijo do mundo, o “Mondial du Fromage et des Produits Laitiers”, realizado na França. “Chegar lá sem falar francês, sem nunca ter saído do Brasil e ser premiada, depois de tudo o que a gente sofreu, foi uma sensação que eu nem sei descrever. Este trabalho que o Sebrae faz aqui é muito importante, porque incentiva a profissionalização do produtor e reforça a nossa capacidade de trabalhar por qualidade e buscar mercados que nos valorizem”, avalia a queijeira.
Marca Região do Queijo da Canastra
Para agregar valor ao queijo da região, o Sebrae em Minas Gerais criou, em 2013, o projeto Queijo Minas Artesanal na Região da Canastra, com o objetivo de fortalecer a cadeia de produtores, por meio de ações voltadas à cultura da cooperação, aproximação com o mercado e posicionamento de marca. A região conta com 793 produtores, nos municípios de São Roque de Minas, Medeiros, Tapiraí, Bambuí, Vargem Bonita, Delfinópolis e Piumhí.
A união dos produtores de queijo da Canastra resultou, em 2014, no lançamento da marca Região do Queijo da Canastra, com novo posicionamento do produto no mercado e o consequente fortalecimento dos produtores e do território. Conduzido pelo Sebrae em Minas Gerais, em parceria com a Aprocan, o projeto orientou os produtores sobre a importância do trabalho em grupo, do associativismo e da necessidade de valorizar a marca do queijo da Canastra junto aos diversos compradores e consumidores.
Os produtores do Queijo Canastra são agricultores familiares, de pequeno porte, com produção média diária de 20 unidades. Graças ao apoio do Sebrae, estão reformulando suas práticas de produção, com os devidos cuidados sociais e sanitários, aprimorando a gestão de seus negócios e conquistando novos mercados.
O modo artesanal de fabricação do queijo à base de leite cru nas regiões da Serra da Canastra, Serro e Serra do Salitre é registrado, desde 2008, como patrimônio imaterial brasileiro. O reconhecimento foi concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a partir de uma demanda levantada pelos próprios produtores, em 2001.
Fonte: Sebrae